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Saúde mental nas corporações

 

Hoje, diferentemente da era fordista do início do século XX, vemos que a economia transformou-se rapidamente ao longo das décadas trazendo consigo enormes avanços tecnológicos que se refletiram em todas as áreas profissionais. Estas se estruturaram para dar conta da nova Era dos serviços. O novo paradigma culmina com a criação de especialidades em números inimagináveis, avanços que ainda não preconizamos na prática ocorrerão, do mesmo modo que vemos a transformação da relação entre o capital e o trabalho, do espaço e da comunicação em suas várias vertentes. Na relação entre capital e trabalho, com foco na saúde mental do empregado, vemos um movimento, se não tímido, que necessita evoluir à altura para acompanhar os avanços macroeconômicos da sociedade em geral, especialmente nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como no caso o Brasil.

 

O fato é que o tema doença mental na empresa revela uma herança da Era industrial, que é um problema inerente ao setor industrial direto. Cada vez mais, com o avanço da automação em todos os setores da economia, a doença - de fundo psicológico e emocional, toma dimensões preocupantes derivada desta nova condição de trabalho e de rearranjo silencioso da relação entre capital e tabalho.   

 

No caso do Brasil, em que sua população economicamente ativa soma algo em torno de 79 milhões de pessoas, sendo 58% representados pelos  homens e 42% representados pelas mulheres, todos eles desenvolvem atividades diversas em distintos setores da economia. O setor secundário teve um crescimento até os anos 80 e agora apresenta uma queda proveniente das crises econômicas e da modernização, enquanto que o setor terciário é o que mais cresce e impulsiona o mercado de serviços, com oportunidades de trabalho que vão desde a mão de obra especializada até a de baixa qualificação. Neste quadro de diversidade e modernização frenética "o quadro da doença mental na empresa também se reinventou". Sua complexidade aumentou e um novo quadro surgiu; se antes doenças eram ignoradas, nos últimos trinta anos muitas foram descobertas auxiliando novos diagnósticos e tratamentos.

 

Os problemas mentais causados pelo trabalho já respondem pela terceira causa de afastamento no Brasil, de acordo com levantamentos realizados pela Previdência Social. Essas doenças perdem apenas para as do sistema orteomuscular, caso da LER (Lesão por Esforço Repetitivo), e as lesões traumáticas. Sabemos também que patologias psiquiátricas se desenvolvem a partir do que se chama de estresse ocupacional. Ele é ocasionado por vários fatores, como ter de cumprir metas abusivas, por exemplo. Há muita cobrança, muita competitividade nos ambientes corporativos, e a pressão que se impõe leva às alterações causando doenças psicológicas. Entre elas, ocasionadas por problemas no trabalho, temos hoje:

 

1º. lugar - A depressão

É o transtorno mental mais comum no mercado de trabalho, responde por mais de 50% dos afastamentos por transtorno mental. De cada 4 pessoas que apresentam a doença, três são mulheres, e a doença aparece especialmente nas fases da vida em que estão emocionalmente fragilizadas, como na gravidez ou na chegada da menopausa.  

 

2º. lugar - A ansiedade

Profissionais que precisam cumprir metas quase impossíveis; executivos que tomam decisões vitais para a companhia; policiais, bombeiros e seguranças, que correm risco iminente de morte; profissionais da saúde, cuja responsabilidade é salvar vidas. O distúrbio adquire váras facetas. como a Síndrome do Pânico, e pode estar associada a transtornos de estresse pós-traumático.

 

3º. lugar - Os vícios

Atividades monótonas e repetitivas funcionam como gatilho para o consumo de álcool, nicotina e de outras substâncias psicoativas viciantes. 

 

4º lugar - A Síndrome de Burnout

É a completa exaustão emocional e esgotamento profissional. Acomete pessoas perfeccionistas, que fazem do trabalho uma missão de vida e, quando não veem resultado ou reconhecimento, não conseguem mais realizar as tarefas às quais sempre se dedicou.

 

Por se tratar de doenças psicológicas, muitas vezes as pessoas não sabem que estão sofrendo da doença, consideram ter apenas tristeza, desânimo ou estarem passando por uma "fase" da vida.

 

Voltando, observo que a saúde mental de empregados nas empresas brasileiras tem obtido certa atenção, mas de modo concentrado nas maiores empresas, com destaque às multinacionais. Dados da Great Place to Work, GPTW, apontam que 75 porcento das organizações normalmente pesquisadas pela consultoria concedem apoio psicológico total ou parcial aos empregados. Penso que há muito o que se fazer ainda no grande mercado e nas empresas médias brasileiras, que buscam a profissionalização de seus negócios, mas que não valorizam iniciativas para a questão da saúde mental.

 

O apoio como serviço corporativo nestas empresas pesquisadas ocorre para que empregados possam resolver problemas familiares e os de trabalho. Do universo destas empresas pesquisadas pela consultoria GPTW cerca de 82% dos profissionais aponta que o trabalho é psicologicamente e emocionalmente saudável porque existem políticas que visam o bem-estar mental e asseguram a permanência da maioria no trabalho. As grandes empresas, principalmente as multinacionais, concedem apoio psicológico, o que ajuda consideravelmente pois, quase 70% das demissões em níveis estratégicos ocorrem por motivos comportamentais.

 

Os motivos são diversos para este cenário que desencadeia demissões ou de empregados que são colocados em acompanhamento e tratamento - O estresse emocional no alto escalão é a maior causa entre os profissionais que ocupam cargos de alta responsabilidade. Segundo estudos da UnB-Universidade de Brasília, cerca de 1,3 milhão de profissionais se afastaram do trabalho por problemas emocionais em 2008. A extenuante rotina de tomada de decisões, de reuniões e de viagens são alguns dos fatores que contribuem para a configuração desse quadro. Todos sabem que o foco na essência tem sido o de manter os profissionais motivados, com pressão e cobrança cada vez mais intensas, muitos se sentem acuados a não conseguir suprir as necessidades da companhia.

 

O foco das empresas mais bem estruturadas e que podem disponibilizar o apoio psicológico como serviço tem sido uma adoção associada, em grande parte, à necessidade de aumentar a produtividade dos empregados, reter talentos e diminuir a rotatividade, motivos que por si só impactam na imagem corporativa destas empresas. O que deve ser ressaltado, porém, é um olhar mais sensível para que orientações internas se tornem crescentes e sustentáveis, isto significa preocupar-se de fato com a saúde do empregado na essência e não somente ter uma ação emergencial que cuida daqueles que adoecem ou que fortaleça o empregado em situações estressantes. É necessário como ação estratégica de saúde mental, ocupar-se dos motivos do adoecimento, trabalhar as causas permanentemente na raiz dos problemas tornando as iniciativas uma questão de saúde pública e de adoção de programas corporativos sustentáveis e sérios de auxílio psicológico à condição do trabalho.  

 

Como nosso trabalho em consultoria está dirigido para a educação de pessoas nas empresas, algumas perguntas são necessárias no sentido da coerência dialética e sistêmica de nossas intervenções, como, por exemplo:

 

- A educação de lideres poderia ser um caminho para se atuar preventivamente no campo da saúde mental e colaborar para a redução do quadro de transtornos cada mais crescente?  

 

- Líderes bem desenvolvidos e exercendo o seu papel na plenitude, deveriam se antecipar diante de um comportamento destoante do liderado e recorrer a ajuda profissional, através de canais adequados, para suportá-lo na superação do transtorno psicológico e emocional? Ou deveriam se manter apenas no firme propósito de olhar a produtividade que a empresa exige? 

 

- Líderes poderiam ser atuantes na gestão de processos, a fim de conduzir a consecução da rotina de trabalho mais leve e menos estressante?

 

- Líderes poderiam ainda gerenciar com equilíbrio e maestria suas demandas, distribuindo-as com base num clima harmonioso e sinérgico para ver cumprido os desafios comuns? É papel do líder buscar a Qualidade de vida no trabalho à mêrce de suas funções estratégicas, de decidir e comandar pessoas para que produzam mais?   

 

Por último, recentemente, assistimos a catástrofe aérea ocorrida na França com o avião da Germanwings, em que todas as evidências apontaram como responsável o copiloto Andreas Lobitz, que tirou a vida de 150 passageiros. Sua omissão em não apresentar o parecer psiquiátrico à própria companhia aérea temendo não mais exercer a profissão; o depoimento da namorada com quem terminara o relacionamento; a tentativa de ter provocado uma experimentação simulada de queda de vôo à Barcelona como ensaio e que faria realmente horas depois; seu comportamento antissocial e de isolamento mencionado por pessoas em seu entorno, além de seu ego, vaidoso e autocentrado, chamaram a atenção da maioria de especialistas da área de saúde mental. Andreas Lobitz, empregado de uma companhia germânica séria, rigorosa por cumprir seus protocolos, não tinha estabelecido como processo de rotina no campo da saúde mental do trabalho um protocolo periódico e necessário de acompanhamento de pilotos. O que vemos como ação comum a todas elas é apenas a obrigatoriedade trabalhista de acompanhamento da saúde corporal sobrepondo a saúde mental.

 

Reflexão:

- Ocorreu uma negligência corporativa, no caso da Germanwings?

- Considerando a maioria das empresas que conhecemos, haveria a necessidade de um processo mais rigoroso de saúde ocupacional voltado para o acompanhamento e controle da saúde mental, sem que haja exposição de colaboradores?

- As leis trabalhistas atuais, particularmente no Brasil, suportam a modernização do mundo do trabalho e de seus novos ambientes?

 

 

                                                                                                                                                                                           Wagner Bosco Silva

                                                                                                                                                                                     Unipersonal Desenvolv. & Associados

 

      

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